fevereiro 08, 2007

Murmurando plasma


Imagens: Armando Coelho

Alguns dias atrás uma garota loura e feliz, que desfilava seus minúsculos shorts de lycra pelo semáforo, me entregou um panfleto de divulgação de uma festa regada a chope que aconteceria em meados do mês de novembro. Tudo certo. Louras, chopes e shorts de lycra realmente formam uma trilogia. Confesso que não sou chegado à multidão, mas foi impossível deixar de notar que esta celebração juvenil cachaceira chamava-se October Fest. Proposital? Teriam esses imberbes produtores rompido com a barreira do calendário gregoriano?Antes de ser subvertida, a October Fest cronologicamente acontecia sempre em outubro. Imagino os pobres moradores de Blumenau apavorados com a bagunça e o barulho provenientes das fermentações etílicas nos cérebros púberes dos herdeiros “bebuns”. Coincidência ou não, em outubro de 1947, o major da Força Aérea Americana Chuck Yeager, foi a primeira pessoa a quebrar a barreira do som. Felizes ficariam os moradores de Blumenau se a festa passasse na mesma velocidade do avião de Chuck, um Bell X-1 supersônico. Tenho mais dados. Aliás, tenho também imagens e depoimentos. O canal da National Geografic nos fornece tudo isso com direito a uma narração cavernosa e dramática com belas imagens de um grande arquivo. Ao receber tantas informações e detalhes técnicos, típico das atrações do canal, não fica difícil calcular que o vídeo do general Yeager quebrando a barreira do som está sendo transmitido na velocidade da luz, para todo o mundo, ao mesmo tempo...
A relatividade do tempo e do espaço prevista por Albert Einstein pode ser curiosamente aplicada para entender os efeitos culturais derivados da velocidade de informação assim como a dos transportes. O mundo realmente diminuiu de tamanho, as aeronaves romperam o muro do espaço e a televisão (e agora a rede de computadores) romperam o muro do tempo. Para acompanhar um fato histórico de grande importância como a queda do Muro de Berlim em 1989, um avião me deslocaria para a região em algumas horas, a tempo de dar umas picaretadas e levar uns entulhos de lembrança. Mas se picaretadas e objetos simbólicos não se caracterizarem como um bom motivo de levantar do sofá, o muro cairá sobre sua sala de tv, ao vivo, a cores, graças à velocidade da luz.
Claro que a existência da televisão e dos aviões não é nenhuma novidade, mas suas causas e implicações agora é que estão sendo melhor compreendidas. É incrível notar que saímos de uma era supersônica e entramos em um mundo dominado pela velocidade da luz. Essa era supersônica que rompeu com tradições, costumes, com o som e que simbolicamente foi encerrada com a derrubada de um grande muro carregado de significâncias, está servindo de alicerce para uma nova etapa de nossa evolução. Não se rompe a velocidade da luz. A massa na velocidade da luz vira energia. Portanto vira luz. Entramos em uma época em que os muros e as fronteiras serão preservados como monumentos históricos. Os muros serão estudados e analisados e caminharemos sobre eles feito gatos de rua cibernéticos, sem casa, misturando as raças, as crenças e os costumes. Caso a divisão continue, a solução é voltar ao muro, e lamentar.

Armando Coelho