fevereiro 05, 2007


Moda? Mode? Fashion?
Rafaela Asmar

Já começo aqui revelando a minha desistência em tratar moda como um “assunto sério”, muito menos “cult”. É muito difícil defender uma idéia que, ainda hoje, no século XXI, está manchada pelo sangue da futilidade. Mas, fazer o que? Acredito no mundo dos supérfluos e dos ataques por luxo dos humanos. Não falo aqui de champagne nem de ouro, mas do que nos faz coçar em busca da coisa para adquirir a felicidade plena, nem que esta dure duas horas.
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Muito se fala em pós-modernidade, elevação da mulher no mercado de trabalho, falta de tempo, excesso de informações etc. Esse blábláblá que todo mundo já está acostumado. As pessoas desistiram do casamento no papel, das domésticas, dos filhos e de um monte de outras “coisas” antigamente vistas como necessárias para uma vida feliz. Estamos buscando praticidade. Quanto mais rápido, tanto melhor. Nossos queridos norte-americanos, principalmente os nova-iorquinos, foram nossos mestres durante muito tempo quando o assunto era se vestir na pós-modernidade. Eles tinham as roupas mais práticas, economizavam nos tecidos abusando do tromp-l'oeil, e desenvolviam os tecidos mais super-ultra-mega funcionais do mundo da moda. Lindo ver a correria dos workaholics atravessando as ruas de NY. Todos com roupas secas, de cortes simples. Tudo pra facilitar.
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Enquanto isso, em Paris, o glamour grita, inclusive, nas estações de metrô. Mulheres com um senso estético abençoado. Sem tanta correria, se dão ao luxo de vestirem sedas, linhos e outros tecidos que amassam. Preocupam-se mais com a comunicação exercida pelo que vestem do que pelo stress a menos por ter a roupa seca em cinco minutos. Não importa se levam um tempo maior para abotoarem uma blusa. Importa que essa blusa
chame atenção. Comunique. Exponha beleza pelas ruas. Pois, para elas, nunca existiu roupa. Sempre moda.Roupa é pra se cobrir, para não ser preso por atentado ao pudor. Moda não. Moda é comunicação.
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Essa rapidez tão impertinente traz a contradição na hora de se vestir. Se, por um lado, você precisa vestir a primeira coisa que vê na frente para não perder tempo, por outro você precisa escolher a dedo o que vai vestir para se comunicar com seus semelhantes. Hoje ninguém mais está disposto a conhecer o seu “interior” tão belo e imaculado. É bater o olho e saber que você é pura e inocente, mesmo que isso seja um recurso para se mascarar. O divertido da história é que com, um tempinho a mais escolhendo o que vai vestir, você pode comunicar cem laudas de um discurso ensaiado por anos.
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Àqueles que se jogam dentro de uma roupa qualquer, vai um aviso: A moda lhe come pelas pernas. Em primeiro lugar, querendo ou não, por mais “despojado” que possa parecer, você não quer se sentir ridículo. Duvido que saia por aí vestindo uma semibaggy e camisa com ombreiras daquelas que se pode dormir em si mesmo. Em segundo, quanto mais você não se preocupa com o que você veste, mais utiliza a moda como meio para comunicação. Você é “ocupado demais” para escolher a roupa que veste, acertei? Seu All-Star sujo, sua blusa rota que não conversa com a calça que está usando me contou. Ah, é claro. Para você que é mulher é calça, pois não tem “modos” para usar saias...
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Por essas e por outras que sempre acredito nos franceses quando o assunto é moda. Acredito mais na forma do que na função. Aliás, a forma também faz parte da função. Mas enquanto a forma se joga no vento, a função trilha aquele caminhozinho sem graça do pragmatismo.

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Enquanto mamífera e humana, afirmo meu gosto pelo luxo. Acredito que é através dele que eu deixo todas as mazelas da vida chata e maçante que eu e meus semelhantes levamos. E o luxo é a forma. Não me importa se esta é adquirida com base em tecidos anti-bacterianos. Se for, melhor. Se não, de que me importa? Preciso me comunicar. Das minhas bactérias cuido depois.