fevereiro 26, 2007

Sam

Nancy de Melo



Gravamos sempre. O registro e sua necessidade sempre estiveram presentes na história e pré-história da humanidade. Na gravura, que por sua vez é chamada por Didi-Huberman de pré-história da imagem[1], possui uma dimensão heurística, e neste campo operatório pré-histórico, quando utilizado hoje, produz trabalhos atemporais, que o autor trata como impressões nem arquetípicas nem pós-modernas, nas quais a possibilidade das cópias se tornou hoje uma opção entre tiragens indefinidas e sem compromisso, ou um simples registro das experiências do gravador; que, em princípio, até que a matriz se esgarce a ação pode se repetir inúmeras vezes.
A matriz altera o suporte, surge o “écart” que é uma separação, coisas que estiveram juntas se separam, reforçando a idéia de união, substrato, subproduto. Dois corpos e a transmissão de substrato, uma metáfora da gênese, o encontro e seu resultado. A separação e o traço, “écart” e “trace”, uma sendo anagrama da outra, no francês, anagrama reverso[2]: O écart é uma operação dialética; se trata em produzir o semelhante, mas em produzi-lo como negatividade operatória, maneira de produzir diferenças em si mesmo. E como não ver aqui que a impressão é o sim e o não da coisa? (Didi-Huberman;97).
O écart é uma operação dialética; se trata em produzir o semelhante, mas em produzi-lo como negatividade operatória, maneira de produzir diferenças em si mesmo. E como não ver aqui que a impressão é o sim e o não da coisa? (Didi-Huberman;97).

[1] A impressão é um gesto técnico, oras a técnica é uma estrutura do tempo, da memória, não somente do progresso, mas; pelo simples fato que tantos artistas do século XX tenham investido um campo operatório literalmente pré-histórico (fazer impressões), isso indica caminhos para pensar sobre a condição temporal da obra de arte moderna. Georges Didi-Huberman – “L’Empreinte”, 1997.
[2] Citado por Christopher Johnson em “Derrida- a cena da escritura”, 1998. “Também aqui ele emprega uma interessante configuração lingüística para exprimir essa estrutura dual, associando a palavra francesa trace com seu anagrama reverso, écart (distância, diferença, divergência, intervalo espaço, espaçamento)”.

fevereiro 25, 2007

Rosane Chonchol


Canetta

Rafael Roncato

Estava eu a cá a pensar com os meus botões portugueses. Sim, porque agora todo e qualquer referencial, volto a olhar para o meio do mundo vasto e descomplicado. O meio-mundo Europeu. Eis então que surge um fato yankee-globalizado: Morre Sidney Sheldon, aos 89 anos, e como era de se esperar, pneumonia. É incrível como todos os velhos americanos morrem sempre da doença dos pneus. Vai ver que aí está a lógica capitalista.
Bom, alucinações à parte, o fato é que o criador do Casal 20 e da gênia Jeannie, morreu. E admito que fiquei até feliz. Desculpe o humor negro, se me permite, mas eu acho que o tal do Mr. Sheldon really died happy. Eu queria ter a vida que ele teve. Viver de escrever seriados, enlatados, vender milhares de exemplares aos excluídos pré-adolescentes (sim, admito que já li um livro seu no alto da minha puberdade). E assim, como quem não quer nada, numa bela de uma quarta-feira, ali, parado, bater a caçoleta. No auge dos meus oitentinhas. Na minha mansão de vinte banheiros. Ai, ai.
Como eu estou ainda na casa dos 20 e não tenho a ambição de ser da elite americana, escritor de livros de suspense, que vendem mais de 300 milhões de cópias... Bom, do que eu tava falando mesmo???

fevereiro 14, 2007

Entre dobras que lembram cavalos, rostos, aves, às vezes tenho a sensação de estar diante de práticas rupestres. Aliás, gravar é um ato primitivo de fato. Para o muro, eu pensei em dobras. Aliás, meus pensamentos vêm se ‘desdobrando em dobras’ já há algum tempo. Então resolvi preparar um painel composto por monotipias para a intervenção no muro. A matriz que gerou esse trabalho foi o tecido dobrado. Essa pesquisa de monotipia sobre tecido é um desdobramento de outros projetos que eu vinha realizando em gravura. Agora, ao invés do sulco feito pela goiva, eu tenho a marca deixada pela dobra do tecido. A dobra, assim como o sulco, são os elementos de controle na obtenção das estampas.
“Dobrar-desdobrar já não significa simplesmente tender-distender, contrair-dilatar, mas envolver-desenvolver, involuir-evoluir” (A dobra: leibniz e o barroco, Gilles Deleuze, 1991).

(Manoela Afonso)

“Esta intervenção na área externa do centro cultural Aliança Francesa compõem-se de obras de artistas reunidos dentro do projeto Le Mur o qual apresenta uma publicação com textos e desenhos dos respectivos artistas. Meu projeto para a intervenção na Aliança foi, desde o início, conseguir utilizar partes do muro como obra. O muro que delimita o espaço da Aliança faz parte de uma arquitetura do início dos anos 70, de quando o Setor Oeste ainda era um bairro tranqüilo e silencioso, portanto o muro é baixo e não muito espesso. Pela idade da casa na qual se encontra o centro cultural, o muro de seus limites deve ter aproximadamente de 30 a quarenta anos, o que justifica suas marcas do tempo. E são exatamente essas marcas que eu tentei ressaltar no meu trabalho. Ao isolar uma área com fita vermelha, evidenciei partes do muro que mais me chamavam a atenção. Reservei um espaço maior para executar meu trabalho de Frotagem sobre a textura do próprio muro, contrastando assim a cultura com fenômenos naturais. Frotagem é uma técnica de gravura a qual você decalca superfícies de alto relevo. No meu caso utilizei papel para capturar a textura. Para o processo de captura pode ser utilizada qualquer superfície plana que possibilite a transferência do relevo. Durante o tempo de elaboração foi a técnica que compôs melhor o diálogo entre o natural e o executável”.
(Armando Coelho)

fevereiro 12, 2007


“A ilustração ‘pixada’ no muro do evento ‘le mur’, segue uma idéia que parte do próprio tema da exposição que é ‘o muro’. Partindo do princípio do que seja e pra que serve um muro em nossa concepção, realizei uma cena encarcerada. Existem algumas representações humanóides em pelo menos 4 situações existenciais e marcantes que temos em nossas vidas, que se referem às limitações que nos são colocadas desde o nascimento, sendo o muro um símbolo de limitação e delimitação de nossas ações. O primeiro indivíduo, da esquerda pra direita, estaria apático às situações que lhe influenciam; o segundo estaria acuado perante elas; o terceiro observando de perto o quarto personagem agir. Aquele que age seria o que rompe para o outro lado do muro e já transpassa o braço pra fora. A idéia da obra é de apenas ilustrar os tipos de pessoas que podemos ser ou já fomos ou que somos, não é uma crítica e sim um fato. A exposição ‘le mur’ foi pra mim uma das manifestações artísticas mais interessantes que houve em Goiânia nos últimos tempos, e tive o privilégio de participar através do convite de nossa ilustre amiga do sul Manoela Afonso. O mais interessante é o muro de arte que separa e conecta Goiânia à França, mediada pela Aliança Francesa de Goiânia. Manifestações simples e prazerosas como essa nos fazem retomar a importância comunicativa que a arte tem ainda mais hoje em dia, com tantos meios acessíveis e práticos das novas tecnologias. Portanto, parabéns para os artistas que já vêm articulando essa interferência artística já há um bom tempo, e também para a Aliança Francesa que nos recebeu com bastaste conforto e entusiasmo. Obrigado.”

(Rildo)

“A Intervention foi uma iniciativa que curti muito, pois trouxe a possibilidade de uma ação cultural e artística para os zumbis!Daí preparei um trampo que já venho trabalhando há algum tempo, algo criado para o evento. Foram alguns dias de trabalho mas que foram recompensados pela ação, e ao sentir prazer em ver o trampo pregado lá. Ame os muros, destrua-os!”

(Sam)

Um muro nas mãos e INTERVENTION na cabeça


Sexta-feira, 08/12/06: correria danada! O Le Mur#1 tinha que estar pronto antes das cinco. Não dormi nem almocei... aquele stress básico. Cheguei na Aliança umas quatro e pouco e só então consegui dar uma relaxada. Fui recebida pela Amina; a Lidiana estava terminando de montar alguns zines. A Maria providenciou um radinho pra gente colocar lá fora e o sr. Acilon finalizava a limpeza do corredor. Tudo pronto e um muro à nossa espera. Um muro não, le mur!
Fui para o corredor e comecei a tirar as coisas de dentro da mochila: cola, pincéis, jornais, fita crepe, monotipias e outras coisas - ao som de Yes, Bob Dylan, Stones, The Who. Nossa, parece que meu gosto musical parou nos anos 70... Interessante... De certa maneira, uma ocupação coletiva também remete a essa época.

Por falar em rock, a figura que chegou logo em seguida foi o Rildo. Cabelo preso e spray no gatilho, tirou a sandália e começou sua intervenção. Depois veio o Armando com um garrafão de vinho, com as idéias na cabeça e as letras de vinil aí ao lado pra gente colar no muro. Por último chega o Sam, com suas serigrafias, rolos, cola e toda a subversão- obsessão-insônia do mundo.
Um e depois dois e depois três e depois quatro e então chegam os amigos que percorrem o corredor, dividem conosco essa sensação de coletividade, da realização de algo... não dá é pra ficar parado. Enquanto houver vontade de realizar, discutir, incomodar, pensar, pirar, a arte estará perambulando por aí... nos becos, nas margens. O que subsiste no ‘centro’ está como água parada, estagnou e oferece o alto risco da acomodação. Talvez a arte não esteja mais onde dizem estar.

(Manoela Afonso)
Rosane Chonchol - RJ
Lidiana com o Le Mur #1 em mãos. Atrás, nosso muro.
2007 e um muro no rumo

O ano de 2006 terminou com um muro em transformação. E 2007 se inicia com um muro ainda em processo, visto que aqui em Goiânia estava uma chuva danada e ele - le mur - decidiu que iria continuar se transformando. Despiu-se aos poucos: escolheu o que permaneceria colado e o que iria cair junto com alguns pedaços da alvenaria. É, Le Mur é vivo e pensante.

Um muro no rumo não é obstáculo, é ponte, é passagem...

... E nós estamos passando! O número 2 de Le Mur apresenta - entre outras coisas, textos, figurinhas e devaneios - o registro da INTERVENTION de dezembro de 2006, com comentários do pessoal que participou da ação. Traz também a presença de artistas de outros cantos, fato que começa a fortalecer nossa pretendida muro-conexão artística: temos desenhos de Rosane Chonchol do Rio de Janeiro e fotografia de Antonino Canetta de Curitiba. Daqui de Goiânia participam Santhiago Vieira com registro fotográfico de intervenção urbana, a Rafa com suas musas repaginadas, Rafael Roncato com texto, Sam com desenho e Nancy com um pedacinho da sua dissertação sobre gravura defendida no final do ano passado lá na UFG. Será esse o início de uma ponte com a universidade? Tomara. Ah sim! A nossa garota propaganda aí em cima é a Lidiana. Ela trabalha na Aliança Francesa e está feliz da vida com o Le Mur #1 em mãos. A fotografia foi tirada por Amina. Quem olha assim não imagina o quanto elas correram para que tudo desse certo no final do nosso evento. Fica aqui nossa homenagem! Valeu!

Manoela Afonso



Sam e seu irmão, após Intervention - debaixo de chuva fina - dez/06 - AF/GO

fevereiro 08, 2007

Murmurando plasma


Imagens: Armando Coelho

Alguns dias atrás uma garota loura e feliz, que desfilava seus minúsculos shorts de lycra pelo semáforo, me entregou um panfleto de divulgação de uma festa regada a chope que aconteceria em meados do mês de novembro. Tudo certo. Louras, chopes e shorts de lycra realmente formam uma trilogia. Confesso que não sou chegado à multidão, mas foi impossível deixar de notar que esta celebração juvenil cachaceira chamava-se October Fest. Proposital? Teriam esses imberbes produtores rompido com a barreira do calendário gregoriano?Antes de ser subvertida, a October Fest cronologicamente acontecia sempre em outubro. Imagino os pobres moradores de Blumenau apavorados com a bagunça e o barulho provenientes das fermentações etílicas nos cérebros púberes dos herdeiros “bebuns”. Coincidência ou não, em outubro de 1947, o major da Força Aérea Americana Chuck Yeager, foi a primeira pessoa a quebrar a barreira do som. Felizes ficariam os moradores de Blumenau se a festa passasse na mesma velocidade do avião de Chuck, um Bell X-1 supersônico. Tenho mais dados. Aliás, tenho também imagens e depoimentos. O canal da National Geografic nos fornece tudo isso com direito a uma narração cavernosa e dramática com belas imagens de um grande arquivo. Ao receber tantas informações e detalhes técnicos, típico das atrações do canal, não fica difícil calcular que o vídeo do general Yeager quebrando a barreira do som está sendo transmitido na velocidade da luz, para todo o mundo, ao mesmo tempo...
A relatividade do tempo e do espaço prevista por Albert Einstein pode ser curiosamente aplicada para entender os efeitos culturais derivados da velocidade de informação assim como a dos transportes. O mundo realmente diminuiu de tamanho, as aeronaves romperam o muro do espaço e a televisão (e agora a rede de computadores) romperam o muro do tempo. Para acompanhar um fato histórico de grande importância como a queda do Muro de Berlim em 1989, um avião me deslocaria para a região em algumas horas, a tempo de dar umas picaretadas e levar uns entulhos de lembrança. Mas se picaretadas e objetos simbólicos não se caracterizarem como um bom motivo de levantar do sofá, o muro cairá sobre sua sala de tv, ao vivo, a cores, graças à velocidade da luz.
Claro que a existência da televisão e dos aviões não é nenhuma novidade, mas suas causas e implicações agora é que estão sendo melhor compreendidas. É incrível notar que saímos de uma era supersônica e entramos em um mundo dominado pela velocidade da luz. Essa era supersônica que rompeu com tradições, costumes, com o som e que simbolicamente foi encerrada com a derrubada de um grande muro carregado de significâncias, está servindo de alicerce para uma nova etapa de nossa evolução. Não se rompe a velocidade da luz. A massa na velocidade da luz vira energia. Portanto vira luz. Entramos em uma época em que os muros e as fronteiras serão preservados como monumentos históricos. Os muros serão estudados e analisados e caminharemos sobre eles feito gatos de rua cibernéticos, sem casa, misturando as raças, as crenças e os costumes. Caso a divisão continue, a solução é voltar ao muro, e lamentar.

Armando Coelho

Samuel 1

Samuel 2

fevereiro 05, 2007

Colagem Digital - Rafaela Asmar - Le Mur #1

Moda? Mode? Fashion?
Rafaela Asmar

Já começo aqui revelando a minha desistência em tratar moda como um “assunto sério”, muito menos “cult”. É muito difícil defender uma idéia que, ainda hoje, no século XXI, está manchada pelo sangue da futilidade. Mas, fazer o que? Acredito no mundo dos supérfluos e dos ataques por luxo dos humanos. Não falo aqui de champagne nem de ouro, mas do que nos faz coçar em busca da coisa para adquirir a felicidade plena, nem que esta dure duas horas.
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Muito se fala em pós-modernidade, elevação da mulher no mercado de trabalho, falta de tempo, excesso de informações etc. Esse blábláblá que todo mundo já está acostumado. As pessoas desistiram do casamento no papel, das domésticas, dos filhos e de um monte de outras “coisas” antigamente vistas como necessárias para uma vida feliz. Estamos buscando praticidade. Quanto mais rápido, tanto melhor. Nossos queridos norte-americanos, principalmente os nova-iorquinos, foram nossos mestres durante muito tempo quando o assunto era se vestir na pós-modernidade. Eles tinham as roupas mais práticas, economizavam nos tecidos abusando do tromp-l'oeil, e desenvolviam os tecidos mais super-ultra-mega funcionais do mundo da moda. Lindo ver a correria dos workaholics atravessando as ruas de NY. Todos com roupas secas, de cortes simples. Tudo pra facilitar.
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Enquanto isso, em Paris, o glamour grita, inclusive, nas estações de metrô. Mulheres com um senso estético abençoado. Sem tanta correria, se dão ao luxo de vestirem sedas, linhos e outros tecidos que amassam. Preocupam-se mais com a comunicação exercida pelo que vestem do que pelo stress a menos por ter a roupa seca em cinco minutos. Não importa se levam um tempo maior para abotoarem uma blusa. Importa que essa blusa
chame atenção. Comunique. Exponha beleza pelas ruas. Pois, para elas, nunca existiu roupa. Sempre moda.Roupa é pra se cobrir, para não ser preso por atentado ao pudor. Moda não. Moda é comunicação.
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Essa rapidez tão impertinente traz a contradição na hora de se vestir. Se, por um lado, você precisa vestir a primeira coisa que vê na frente para não perder tempo, por outro você precisa escolher a dedo o que vai vestir para se comunicar com seus semelhantes. Hoje ninguém mais está disposto a conhecer o seu “interior” tão belo e imaculado. É bater o olho e saber que você é pura e inocente, mesmo que isso seja um recurso para se mascarar. O divertido da história é que com, um tempinho a mais escolhendo o que vai vestir, você pode comunicar cem laudas de um discurso ensaiado por anos.
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Àqueles que se jogam dentro de uma roupa qualquer, vai um aviso: A moda lhe come pelas pernas. Em primeiro lugar, querendo ou não, por mais “despojado” que possa parecer, você não quer se sentir ridículo. Duvido que saia por aí vestindo uma semibaggy e camisa com ombreiras daquelas que se pode dormir em si mesmo. Em segundo, quanto mais você não se preocupa com o que você veste, mais utiliza a moda como meio para comunicação. Você é “ocupado demais” para escolher a roupa que veste, acertei? Seu All-Star sujo, sua blusa rota que não conversa com a calça que está usando me contou. Ah, é claro. Para você que é mulher é calça, pois não tem “modos” para usar saias...
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Por essas e por outras que sempre acredito nos franceses quando o assunto é moda. Acredito mais na forma do que na função. Aliás, a forma também faz parte da função. Mas enquanto a forma se joga no vento, a função trilha aquele caminhozinho sem graça do pragmatismo.

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Enquanto mamífera e humana, afirmo meu gosto pelo luxo. Acredito que é através dele que eu deixo todas as mazelas da vida chata e maçante que eu e meus semelhantes levamos. E o luxo é a forma. Não me importa se esta é adquirida com base em tecidos anti-bacterianos. Se for, melhor. Se não, de que me importa? Preciso me comunicar. Das minhas bactérias cuido depois.
Desenho de Sam - Le Mur #1